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AQUILO QUE ME CONTOU O TEMPO

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Aprendi com o tempo que o próprio tempo deixa marcas. Umas físicas, outras não.
Vi que o tempo é um agente revelador do caráter. É a peça que põe em xeque os sentimentos. O qualificador das amizades. A moldura dos afetos. O limite das escolhas imperfeitas.
Percebi que só o tempo existe.
O espaço, seu associado, é o palco onde ele faz sua apresentação. Pois tudo o que acontece tem que se desenrolar em algum lugar.
A manifestação do tempo se traduz em rugas e nostalgia. Em chegadas e partidas. Em brevidade e eternidade. Enfim, o tempo é onde os contrapostos se encontram…
E fora do círculo do tempo, na eternidade, está Deus, Senhor da história, criador e sustentador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Como diz o apóstolo Paulo:
“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!
Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro?
Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?
Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” – Romanos, 11.33-36
Aprendi com o tempo sobre os outros…
Aprendi com o tempo sobre Deus…
Aprendi com o tempo sobre mim…
Isso se mostrou uma tarefa fatigante!
Pois ver os outros como são de fato, é difícil. Porém, o tempo e a distância auxiliam. Compreender e amar a Deus e não a ideia que dele fazemos, é dificílimo. Contudo, a intimidade faz com que as escamas de nossos olhos comecem a cair. Mas ver a mim mesmo de uma forma não distorcida, é quase impossível. Entretanto, Deus me mostra como. E é através da minha interação com os outros dentro do tempo.
Como viveria com Deus na eternidade se no tempo que me é dado não consigo conviver com os humanos?
Enfim, tudo é o tempo. Assim, aprendi a não me importar com o que não é Cristo. Aprendi, a despeito de qualquer coisa, a seguir em frente.
Aprendi com o tempo a rir de mim…

Soli Deo Glória

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SOLIDÃO

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Todos nascem sós. Isso é fato.

Não há quem nasça acompanhado. Até os gêmeos vem ao mundo um de cada vez. Pois cada um existe sozinho, trancafiado em si mesmo. É inevitável. De outra forma não seria necessária a comunicação.

Pensamos e sentimos sozinhos, apenas depois é que expressamos o que se passa em nossa solitude. Saímos do ermo para tornarmo-nos conhecidos. Compartilhamos nossa essência e conseguimos apreender o isolamento do próximo.

Há pessoas que vivem bem com esta solidão. Chegam a ponto de precisar dela. Não renunciam ao seu insulamento. Entretanto, há outros que não suportam estarem sós. Buscam desesperadamente uma companhia, alguém que aplaque a dura convivência consigo mesmo. Entre estes extremos se encontra a maior parte de nós. E o que nos mantém estáveis, na medida do possível, é a arte.

A arte é o exercício de vagar do deserto à multidão. Por isso, ela tem, inexoravelmente, um único propósito e uma dupla função. A solidão e a comunhão são gêmeas siamesas, unidas pela maior expressão humana: a arte. Retire a arte da humanidade e a comunhão morrerá, jogando o homem a um estado de bestialidade jamais visto.

Para cumprir seu propósito de manter o ser humano em equilíbrio com seus atributos, a arte lança mão de suas duas funções: a criação e a atividade.

A atividade artística é, por natureza, voltada para o exterior. É a refeição servida a mesa. É aglutinadora. Destinada aos outros, com o intuito de que cada um, em sua existência isolada, tenha a mesma experiência com o que lhes é comunicado. Seu objetivo é a desintegração do existir solitário. Seu foco é a comunhão.

Em contrapartida, esta atividade só poderá subsistir como fruto da solidão. Pois a criação artística é produto da solidão. A criação é um ato de interiorização, de isolamento moral. Apenas na total solitude um poeta desnuda a alma e verte sobre o papel o que deseja expressar. É lá, no ermo da criação, que o músico compõe sua canção, porém quando a executa busca somente o ouvido alheio. Porque toda criatividade é filha da solidão. Mas nem toda solidão é criativa.

A atividade sem objetivo é imbecilidade, a solidão sem criação é extremamente danosa.

A arte em toda a sua plenitude, da criação a atividade, é a manifestação mais nobre da alma humana. E é através dela que imitamos a nós próprios; porque somos uma obra de arte do maior de todos os artistas: Deus.

extraído do livro: Corações sem medo – Fabiano Kieling

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O PODER DE UM BOM DIA

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Após o derrame ele viu ofuscada sua alegria de viver. Limitado em seus movimentos. Impedido de sair sozinho. Depois de meses deitado em uma cama, ganhara o direito de descer de seu apartamento e sentar-se na portaria do prédio para olhar a rua.

Esta era sua vida. Olhando a rua, ouvindo o seu radinho e conversando com as flores. São tão bonitas, pensava ele. A haste verde escuro com cinco folhas penduradas e na extremidade dezenas de minúsculos botões amarelos. Todas eram assim. Lembrava-lhe a bandeira do Brasil que tantas vezes jurara nos seus áureos tempos de oficial do exército.

Agora, nenhum dos transeuntes notava sua presença. Sentia-se rebaixado, invisível em meio ao fluxo contínuo de pessoas, que com o passar do tempo tornavam-se acinzentadas. A única coisa que lhe parecia real era o verde amarelo daquelas flores.

De manhã, lá estava ele em seu posto, com seu rádio, suas flores e sua esperança de provar que ainda servia para alguma coisa. Queria que não lhe lançassem olhares de comiseração como seus familiares.

Certo dia algo aconteceu. A certeza que sua espera não fora em vão, a sensação de que ainda existia invadiu-lhe a alma e tudo voltou a ter cor.

— Bom dia. — disse uma moça de mochila.

— Bom dia… — respondeu baixo, meio tímido.

O dia transcorreu como de costume, porém a família estranhou aquele sorriso.

No outro dia:

— Bom dia. — disse ela.

Agora com mais segurança e com um sorriso largo e aberto ele respondeu:

— Bom dia!

Assim foram as manhãs daquela semana. Seu sono melhorou. Teve mais apetite.

Depois de um fim de semana que para ele durara uma eternidade, chegou a segunda-feira. E lá estava ele no seu posto esperando a moça de mochila passar.

— Bom dia! — disse ele antecipadamente.

— Bom dia…

Algo aconteceu! Ela não estava sorrindo como de costume. Ele sentia-se em dívida com ela e com seu sorriso luminoso. Naquela noite perdera o sono

Ela saiu atrasada, estava quase correndo, não só com os passos mas com o pensamento. No ritmo alucinado da sociedade moderna pós-industrial, planejava e organizava mentalmente seu dia: trabalho, faculdade, marido, casa, sua ansiedade e seus planos para o futuro, tudo ao mesmo tempo. Olhou para o relógio e virou-se para cumprimentar de passagem aquele senhor:

— Bom…

Algo aconteceu! Ele cheio de coragem fez um sinal para que ela se aproximasse. Ela, apesar de tudo, chegou até a grade do portão, movida pela curiosidade. Caminhando com dificuldade ele foi ao seu encontro e estendeu a mão.

Os olhos dela brilharam. Nas mãos dele reluzia sob o sol o verde-amarelo de uma flor.

— Que Deus lhe abençoe. — disse ele.

Ela estava surpresa. Agradeceu tomando a flor em suas mãos com os olhos cheios de lágrimas prestes a despencar para as faces. O dia brilhou e coloriu-se. Ela agradeceu novamente e com o sorriso novamente iluminado disse:

— Bom dia!

— Bom dia. — respondeu ele.

Então ela mergulhou na calçada e seguiu em frente.

Nenhuma palavra a mais foi necessária. Os gestos falavam por si. Nada apagará da memória deles aquele momento. A simplicidade coloca todas as coisas no seu devido lugar. Atitudes simples nos fazem colher frutos doces. Um sorriso e duas palavras.

O velho oficial recuperara a auto-estima. Ficou observando-a desaparecer na multidão. Encheu o peito de satisfação pelo dever cumprido. Com a felicidade correndo em suas veias, disse baixinho para si mesmo:

— Bom dia

crônica extraída do livro:

“Corações sem medo” – Fabiano Kieling

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Reflexão cristã

AS CORES DO JARDIM

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Tentei de todas as formas gostar das coisas do mundo. Tentei agradar a todos. Tentei me adaptar. E a cada tentativa: Frustração!

Cada jeito, cada detalhe e nuance observei. Para, com suor e labor, querer me assemelhar aos iguais.

Anestesiei-me para seguir a vida morta de todas as pessoas.

Deixei vir a mim todas as misérias.

Permiti-me alegrias tolas…

Tudo em vão! Pois nada colhi, a não ser o abraçar do vento frio.

O “não adaptável” em mim explodiu…

Meu desalinho aos gostos mundanos, que a maior parte da humanidade exalta, ficou evidente.

Então, parei de gastar tempo tentando gostar do que não gosto. Ao fazê-lo, parei de agradar.

Sentei no meio-fio da vida, com flores murchas nas mãos, a ver viver os mortos.

Lá, isento de tudo, sujo, só e perdido, ouvi uma voz:

“- Mostre para mim que você acredita!”

Percebi que fui achado!

Em Cristo, hoje, tenho me tornado perturbador do mundo, por causa dEle em mim reverdejou o riso, as flores tem novo viço e, agora, conheço todas as cores do jardim.

Reflexão cristã

NO MEIO DO NADA

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Do nada, tudo foi criado.
E nada do que é criado existe para ser independente. Interação é o hino do universo. Tudo o que há está relacionado a algo.
O vínculo é um dos conceitos definidores da humanidade. Cada um de nós nasceu física e emocionalmente ligado a alguém.
Nossa vida é pautada por relacionamentos. Tanto pela presença quanto pela ausência deles. E podem ser positivos ou negativos.
Desde o nascimento as relações são alimentadas pelas emoções. Grosso modo: mamíferos amam! Ou pelo menos deveriam, é o que se espera.
A mãe é a pedra fundamental do afeto. Ela é a coluna que sustenta a vida emocional de um lar. Ela está para a emoção assim como o pai está para a segurança.
A instabilidade emocional e a insegurança tem comprometido nossa sociedade. O ocidente adoeceu por conta disso. Lares quebrados, pessoas em ruínas.
Não falo aqui daquilo que é visível, como divórcio, marxismo, ideologia de gênero, linguagem neutra, construtivismo, feminismo ou qualquer outra sociopatia similar. Ressalto a enfermidade invisível, porém real, silenciosa como uma serpente, semelhante as pequenas gotas de óleo no copo d’água. Os pequenos dramas que consomem as relações. Aparentemente unidos, lares doentes são feitos de sentimentos em escombros. Como se fora implodido, tal casa permanece nos seus limites, contudo com cada coisa fora de lugar.
O que expresso aqui é muito sutil. Perceptível apenas para quem, acuradamente, observar…
Não faltam exemplos bíblicos: Abraão e Sara, Sara e Hagar, Jacó e Esaú, Jacó e Labão, Jacó e seus filhos, José e Seus Irmãos, Saul e Jônatas…
A vida de Davi, assim como a de Jacó, é um quadro completo pintado pelas tensões que, com o passar do tempo, minam os relacionamentos: Davi e Mical, Davi e seus irmãos, Davi e Absalão, Davi e Bate-Seba, Davi e Saul…
Esse parcos exemplos são apenas um vislumbre das micro pressões cotidianas e suas macro consequências.
A solução é, e sempre foi, o perdão.
Relevar resilientemente os pequenos estresses, pondo em prática as palavras de Cristo, é a única solução para não ter de enfrentar as consequências.
Portanto, se pararmos de proteger nosso ego, se atentarmos a necessidade do outro, se, consciente e propositalmente, agirmos em favor do Reino, com certeza nossa casa será firme.
Tudo o que existe está vinculado a algo, volto a dizer! Inclusive nossa casa, inclusive o amor.
Do meio do nada, tudo aconteceu….
“Amor em ação” é assim:
“O povo que andava em trevas viu uma grande luz; e sobre os que habitavam na terra de profunda escuridão resplandeceu a luz.” Isaías, 9.2
Soli Deo Glória

Reflexão cristã

PEQUENOS HORIZONTES

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Em muitos momentos somos cegos sem saber que estamos sendo.
Muitas e muitas vezes somos servos de nosso umbigo. Cheios de justiça própria. Nada para lá de um palmo diante do nariz.
Confundindo grandeza com grandiosidade. Nada vendo além de nosso interesse. Admiramos o grande Golias e esquecemos o grandioso Davi que, por sinal, só assim o é por causa de Deus.
Fico assim, espantado, pensando ao me perceber pequeno.
Sinto-me diminuto.
Fragmento de mim.
Em dias assim compreendo o salmista:
“Pequeno sou e desprezado, mas não me esqueço dos teus preceitos. A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade.”
(Salmos, 119.141,142)
Dias assim, de coração apertado, de nó na garganta, de olhos úmidos, de vontade de tudo deixar pra lá.
Mas por causa de Cristo fico parado, enraizado, como árvore na tempestade…
Quem sou eu pra não perseverar?
O que são minhas fugazes preocupações diante da agonia do Getsêmani?
Em paralelo à enervante expectativa da cruz, minhas dores nada são…
Meus dissabores nada tem de especial, nem minhas alegrias.
Eu, principalmente, nada tenho de especial.
Recorro novamente ao salmista:
“Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que dele te lembres? e o filho do homem, que o visites?
(Salmos, 8.3,4)
Nada temos a não ser nossos estreitos horizontes, nossa falta de percepção e nossa incontável teimosia que nos faz habitar em lugares artificiais, feitos para nos separar do criador. Construídos para engrandecer o engenho humano tornando-os, assim, adoradores de si mesmos.
Cegos, míopes e desinteressantes.
Afeitos a ideologias risíveis e a teorias impraticáveis, desprovidos de contato com a vida prática.
Mas que bobagem a minha! Tudo isso era já de se esperar. Apenas um desdobramento do pecado, do ” Adão em nós”…
Apenas espero chegar o momento. O dia em que tudo será posto no lugar, quando, enfim, veremos face a face…
Até lá vou vivendo no limite do horizonte. Quem sabe aprendo a compreender mais os horizontes alheios e a agir de acordo com a vontade d’Aquele que vive.
Soli Deo Glória

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POR EXEMPLO

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Acredito no exemplo.

É necessário para o desenvolvimento do ser humano ter uma vida como referência. Antes do processo de aprendizagem intelectual, uma criança imita o adulto mais próximo. Um igual em quem se espelhar.

Por isso, acredito no exemplo. Na transmissão não só de conhecimento, mas do modo de vida. Acredito na transformação da natureza humana através do exemplo. Sou fruto disso.

Na história não bastam mensagens, fatos, eventos e conquistas. Tem de haver exemplo, isto é, uma vida que quando contraposta a sua obra seja no mínimo coerente. Pois é muito fácil dizer: “faça o que digo mas não faça o que faço”.

Ser um exemplo é muita responsabilidade. Ser um exemplo é um exercício de compaixão. É ser um mestre preocupado com a vida do discípulo. E esta relação mestre-discípulo é, e sempre foi, o melhor método de educação. Aquele ensino formal em que o ser humano é engaiolado em uma sala com diversas pessoas, copiando, respondendo questões e ouvindo alguém que ele não faz idéia de quem seja, não é capaz de forjar um caráter infantil e muito menos de transformar a vida de um homem.

O fio condutor da relação entre o mestre e o discípulo é o exemplo. É extremamente eficaz por que é cotidiano. Não é restringido a um lugar e a uma parcela de tempo. É contínuo e ininterrupto. O mestre vive sua vida e o discípulo a sua, no entanto ambas estão ligadas. Cada um tem sua vida e sua obra e responde por elas. Pois todo mestre foi, ou ainda é, um discípulo.

Eu caço histórias por que acredito no poder do exemplo.

Entre centenas e centenas de livros, vislumbro milhares de exemplos. Entre centenas de rostos na rua mergulhados de dia a dia, procuro exemplos. Busco pessoas que possam bater no peito e dizer: “olhe para mim…”, “faça o que eu faço…”. Estes são os mestres. O mundo moderno não os ama. Na verdade o mundo nunca os amou.

É sobre isto que me debruço todos os dias: Por não amar e nem ser amado pelo mundo.

crônica extraída do livro “Corações sem medo” – Fabiano Kieling

Reflexão cristã

QUANDO VEM A TEMPESTADE…

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O ritmo da vida perturba. Parece-me que os ciclos nos fazem sofrer. Dia e noite, sol e chuva, frio e calor, saúde e doença, vida e morte…
Salomão já constatara que tempo para tudo há!
“Tudo tem a sua ocasião própria, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.”. Eclesiastes 3.1
Após fatigantes dias de insuportável calor, ansiamos pela chuva e vice versa. Nunca nos satisfazemos.
Embora estejamos agrilhoados tanto às benesses como aos dissabores, reagimos ao conforto, obviamente, de modo mais positivo do que ao que nos causa incômodo.
Preferimos a calmaria à tempestade. Mesmo sabendo que a venturosa calma do mar não nos leva a lugar algum.
Contudo, a tempestade sempre vem.
Trazendo consigo nuvens escuras, raios, trovões e a ventania…
Mesmo que não queiramos, tudo começa a se desarrumar, o vento e a chuva entram por nossas janelas abertas de desatenção.
Você entende o que estou falando? Percebe o inevitável?
O dia mau chega.
O desagrado invade.
O mal que não quero acontece.
O bem que desejo não faço.
Assim a vida se apresenta: Dias e dias mergulhados em distrações e em perspectivas momentâneas contrapostos a raros acontecimentos que jogam em nosso rosto a realidade dura da eternidade.
O palco destes acontecimentos é sempre o inesperado, decorado de desastres, hospitais e cemitérios.
Aqueles momentos da vida que descolorem nossas ridículas expectativas e tingem de preto e branco nosso cotidiano.
Tudo para nos lembrar da nossa insuficiência. Nos trazer de volta aos trilhos do soberano criador.
Pois é! Por mais que não queiramos, as coisas acontecem.
O que fazer?
Deixar pra lá?
Ficar quieto e parado esperando passar?
Não sei você, mas eu prefiro extrair algo. Incorporo a dor, tento abraçar o infortúnio e sorrir aos desagravos.
Como poderia fazer menos que isso? Se, na cruz, Jesus Cristo suportou as tormentas em meu lugar…
Se me amou, mesmo sendo eu a tempestade!
Sendo eu o cravo a ferir sua mão…
Devendo ser minha a lancinante dor da carne rasgada.
Como, depois do terceiro dia, ouso duvidar?
Sou demasiadamente pouco.
Procuro, pois, acrescentar cores a esses tempestuosos dias cinzas.
Tinta escarlate com pincéis de oração. A tela feita de confiante esperança. Tudo será posto no lugar. Pois Cristo vem e com Ele a glória.
Fiquemos firmes.
O Dia vem.
A eternidade trará o fim das tempestades. E tudo será como diz a escritura:
“Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem cairá sobre eles o sol, nem calor algum; porque o Cordeiro que está no meio, diante do trono, os apascentará e os conduzirá às fontes das águas da vida; e Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima.” – Apocalipse 7.16,17
Soli Deo Gloria

Reflexão cristã

DOENÇAS

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Debruçado em meus pensamentos, levemente debilitado por dez dias, pus em cada prato da balança os sãos e os doentes. De todos os tipos, em todos os níveis.

Percebi, então, que neste mundo a doença pesa mais que a sanidade.

Não apenas fisicamente.

É óbvio que quando o corpo deixa de render o esperado, quando se abate, tudo mais sofre.

O agressor, por analogia, remetemos ao próprio Mal.

Mais do que ser invisivelmente atacado por seres microscópicos, é ter as forças sugadas por um inimigo  imperceptível, cujo único objetivo é cumprir seus próprios interesses. Isso me traz a memória a condição humana. Quase ao estilo de Kierkegaard.

Mas de todas as mazelas, constatei entre os humanos, que as da alma são as piores…

Estas sim drenam nossas forças. Estas implodem nosso ânimo. Quebram nossa vontade e nos afastam, paulatinamente, de Deus.

O sentir novamente os sentimentos passados, quase na sua totalidade sempre negativos, é uma face da dura opressão do mal. Chamamos isso de “Ressentimento”.

Dores antigas, cicatrizes, marcas de um sofrer há muito terminado, não podem, em circunstância alguma, gerar um mal estar real!

Somos nós mesmos que nos enlouquecemos. Temos a garganta apertada por nossas próprias mãos. A ansiedade, a depressão e todas as chamadas “doenças da alma”, são o produto da queda. Pois não podemos olhar o ser humano e a história, senão pela perspectiva do pecado.

Há um vazio em cada um de nós que só é preenchido por Deus….

Quanto mais ocupo este vazio comigo mesmo, mais sofro.

Cada vez que imponho sobre mim a minha própria vontade, meus próprios interesses, meu desejo humano de ser meu próprio Deus, mais e mais vazio fico, evidenciando a impropriedade de querer ocupar um espaço que pertence somente a Deus.

Eu, terrível algoz de mim, tirânico senhorio de pesados fardos. Eu, dono do chicote flagelante e do jugo doloroso.

   “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.”

                             1 Pedro 5.6,7

Eu me reconheço pecador. Assumo a responsabilidade por minhas dores psíquicas. Pois sei, que meu ego é como um vírus a me adoecer, sou a bactéria de mim mesmo.

O remédio é o vazio preenchido.

Repleto de Cristo.

Não de mim.

Nunca de mim…

Soli Deo Glória

Reflexão cristã

AS FOLHAS

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    Dias frios me deixam melancólico.

    Isso não é bom, nem ruim. Apenas me dá uma perspectiva diferente.

    O cair das folhas em dias assim, me ensina muito…

     Me mostra que, como as árvores, devo deixar secar e soltar de mim o que não serve mais.

     Me mostra que é justamente o ciclo do tempo, o envelhecer, que mais produz a renovação da mente.

    Pelo menos em mim foi assim. Apesar das nuvens escuras, por trás do gris, percebi que o dia e a noite continuavam a se suceder.

    Você entende?

    Não importa o que aconteça conosco, há algo bem maior, com um ritmo próprio, que conduz a existência.

    É nossa resposta à Cristo que determinará nosso existir.

    “Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu.”

                           Romanos 1.19-21

    Não importa a opinião humana. Assim como não importam as considerações da árvore em relação as folhas. A lei da gravidade ficará em suspenso porque a amendoeira diz: “Acho um absurdo deixar as folhas irem ao chão!”

    Percebe?

    Não há lei, determinação ou dispositivo humano que fará Deus mudar de plano.

    A insistente negativa infantil quanto a existência divina, não fará Deus sumir. Alguns podem viver nessa negação, mas o inevitável, cedo ou tarde, bate à porta.

    Não se pode existir desta forma. Isso não é vida. Assim como a a queda da folha não é vôo.

    Sei o que Cristo fez em mim.

    Por isso me esmero em me livrar das folhas secas…

     Para que o sol da justiça, Jesus, venha resplandecer em mim e me faça reverdejar…

Soli Deo Glória

Reflexão cristã

DESALINHO

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   Me observo em desalinho.

   Entre tudo que me cerca, entre os dias que se passam.

    Não há sílabas que me confortem.

    Sinto a tensão das relações aumentar.

    Vejo o Mal mostrar sua face, maquiado, com cores de justiça e suposta cobrança “histórica”. Assim, mais terrível se apresenta. Muitos incautos o abraçam. Até mesmo entre os que, por causa de Cristo, não deveriam.

    É o sinal: dos tempos; do anseio da criação pelos filhos de Deus; de uma geração pressionada.

    Entre tudo isso estou.

    No vento, a limpar os olhos por causa da poeira. No mar, a molhar as canelas na água gelada.

    No meio de tudo isso estou.

    Encoleirado, de peito fervendo para agir. Contudo, sentado, sabendo que o melhor é esperar o momento adequado.

    Cego como Sansão, a tatear as colunas do palácio filisteu.

    Conheço há muito esta sensação.

    Você já se sentiu assim?                  

    Desencaixado? Elemento estranho ao grupo?

    Se já, parabéns! Você tem rejeitado a doutrinação social das nossas escolas, tem se livrado das vinculações seculares.

    Sabe muito bem que, assim como eu, não vale muita coisa.

    Por isso o mundo nos odeia. Porque amamos a Jesus…

  “E sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.”                  Mateus 10.22

    E assim segue a vida.

    E eu desalinhado no meio de tudo.

    Entre tudo a querer que eu me dobre.

    Todos querendo que eu me comporte conforme a manada politicamente correta. Formatados pelo mundo.

    Não sei você. Eu costumo usar meu cérebro para pensar. Refletir com sinceridade sobre o que me rodeia.

    Quando se faz isso, inevitavelmente, esbarra-se em Cristo.

   “… se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”       João 8.31b,32

  “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.”          João, 8.3 6

    Portanto, pelo visto, continuarei assim.

    Desalinhado.

    Chamado para fora.

    Correndo atrás do nazareno.

    Livre do cativeiro da reverência humana.

    Como diria John Stott: ” Sou cristão não porque isso é bom. Sou porque é verdadeiro!”

    Se você concorda e se sente assim como eu, não se preocupe.      

    Nós, assim como Elias, não estamos sós…

   Soli Deo Glória

Reflexão cristã

INADEQUAÇÃO

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Sempre me senti inadequado.

Inadequado, não no sentido de não se adaptar as circunstâncias, pois isso faço muito bem, mas em um contexto mais amplo.

Com o ritmo do mundo, é estar em desacordo, desajustado, desarmonizado, desafinado, desencaixado, deslocado, ou qualquer outro particípio que se consiga encontrar. Você já se sentiu assim alguma vez? Incongruente? Inoportuno?

Conheço pessoas que sabem do que estou falando. Gente que sente que seu lugar e papel no mundo são impróprios. São seres inadequados como eu. Inadequáveis com o status quo cotidiano, com o andamento dos sistemas vigentes. Conheço histórias tão diferentes que a única coisa em comum é a incomum inadequação.

Sem nosso consentimento somos empurrados ao vozerio do dia a dia e nos acomodamos, mesmo inaptos seguimos a manada, mesmo inconformados sorrimos e disfarçamos nossa inadequação por não ser de bom tom falarmos dela socialmente, porque, afinal de contas, como disse certo autor, aprendemos a não balançar o barco.

Pessoas morrem por serem inadequadas a este mundo tenebroso em que vivemos. As que adoecem finam de tristeza. As sãs morrem lapidadas, devoradas, decapitadas ou na cruz.

Talvez impropriedade seja o termo que mais se aproxime deste sentimento. Não fui feito para este mundo. O simples fato de eu existir neste lugar não é próprio, não para mim, mas para o mundo. Quem sabe ele me veja, não como um peixe fora d’água e sim como uma pedra no sapato, como um grilo que não o deixa dormir, uma coceira no ouvido, ou pior que isso, um vírus, um incômodo silêncio de negação, um cão de rua a latir perturbando o sono das ilusões.

Por eu não encontrar razão para amá-lo, o mundo irracionalmente me odeia. Então que seja! Ao seu ódio sou indiferente, como sou indiferente aos sentimentos maternais de uma barata.

Espero que nós inadequados venhamos a transbordar de pedras os sapatos do mundo com nosso silêncio. Que nossos latidos e cricrilares cocem os ouvidos iludidos até que despertem de seu sono.

Poderemos ser jogados as feras ou decapitados. Contudo, nada mudará o fato de estarmos voltando para casa. Estamos aqui, é certo, mas não somos do mundo!

Talvez isso nos valha a pena capital. Mas não importa… estamos só de passagem.

Do livro “corações sem medo” – Fabiano Kieling